Os mercados financeiros em geral e o mercado de capitais em particular têm amiúde provocado elevados níveis de tensão e ansiedade entre os agentes econômicos. Esta importante criação da sociedade capitalista é, para o bem ou para o mal, uma das mais importantes instituições econômicas dos países desenvolvidos.

por Carlos José Guimarães Cova – Brasil Econômico

É possível que os grandes avanços em termos de crescimento e desenvolvimento econômico experimentados pelos desenvolvidos tenha sido o resultado do aperfeiçoamento dos níveis de governança, de capilaridade e de desenvolvimento das instituições que regulam e fiscalizam os agentes que operam nos mercados.

Os mercados são entidades multifacetadas, que podem ser enquadrados na categoria dos sistemas orgânicos adaptativos complexos, que, tal como um organismo vivo, evidenciam comportamentos singulares.

São sistemas dinâmicos, pois estão em constante evolução, sendo formados por um grande número de entidades, que interagem com outras entidades. São sistemas abertos e não lineares.

Cada agente produz uma resposta em face dos sinais que recebe de outras entidades, não necessariamente proporcional ao estímulo recebido e que pode ter o efeito de desencadear uma ação (compra ou venda) ou inibi-la.

Os mercados enquanto sistemas são adaptativos, pois estão em constante evolução, ou seja, evidenciam o aprendizado dos agentes que o compõem em função da experiência adquirida por sua interação com o ambiente.

Este aprendizado coletivo talvez seja a sua mais importante característica e a que torna mais difícil a sua modelagem e o seu tratamento matemático, pois a própria arquitetura do sistema também vai mudando, à medida que ele evolui. Isto implica que não existe um modelo que possa ser elaborado por qualquer investigador que seja capaz de descrever os mercados, que dirá antecipar os seus movimentos.

Há a questão da reflexividade, aludida por George Soros, que se manifesta toda vez que um agente atua nos mercados, no sentido de alterar suas condições iniciais. Não bastasse isto, há o componente de aleatoriedade, o que significa que algumas das características do sistema são distribuídas ao acaso.

Há uma tendência, por parte dos estudiosos de finanças, de criarem modelos baseados num suposto comportamento de
variações de preços e retornos análogo ao comportamento de uma distribuição normal.

É uma abordagem que produz teses e modelos bastante elegantes, do ponto de vista matemático, mas completamente ineficazes, quando os mercados colapsam, conforme puderam constatar os usuários dos consagrados modelos de gestão de risco baseados no Value-at-Risk (VaR).

Não obstante, há uma ordem emergente, pois o sistema se auto-organiza de forma espontânea, criando ordem a partir de um estado aparentemente desordenado, ao mesmo tempo em que evidencia uma hierarquia entre suas partes inter-relacionadas.

Não só há uma ordem emergente, como também se manifestam propriedades coletivas emergentes, que decorrem das múltiplas interações locais entre os agentes que formam o sistema, tais como os hedgers, os especuladores e os arbitradores, que, nas suas diferentes configurações, por meio de efeitos de competição e cooperação, geram resultados que impactam o todo.

Existe um comportamento caótico, com grande sensibilidade às condições iniciais, nos quais um desvio pequeno dessas condições iniciais pode ser amplificado exponencialmente pela evolução do sistema, produzindo um resultado muito diferente.

Por fim, há o aspecto da fractalidade das escalas de tempo dos mercados. As entidades fractais são estruturas geométricas de dimensão fracionária, que possuem auto similaridade em todas as escalas. Nesse sentido, o tempo das aplicações e dos retornos dos períodos de manutenção de investimentos pode evidenciar um comportamento fractal.

É por todas essas razões que chega a ser engraçado assistir a uma entrevista ou ler um artigo de analistas de investimento, declamando em prosa e verso qual será a nova tendência de valorização de ações deste ou daquele segmento. A pretensão é absurda, se for considerada a complexidade do tema e a natureza incognoscível dos mercados.

Mais patética ainda é a audiência que grande parte dos atores do mercado dá a esses “gurus”, que tentam vaticinar os próximos movimentos. Basta conferir as projeções de início de ano. Apesar de tudo, o mercado ainda é o grande promotor da riqueza de longo prazo, premiando aqueles que nele confiam sem pretender explicá-lo.

Publicado em 20/09/11
Fonte: http://brasileconomico.ig.com.br/noticias/quem-conhece-os-mercados-financeiros_107095.html