Os eleitores, ao decidirem votar num contexto de racionalidade, devem considerar os possíveis fluxos de benefícios que podem obter a partir da atividade governamental, ou seja, diante de alternativas mutuamente exclusivas, um homem racional vai escolher aquela que ele entende trazer o maior benefício para si.

por Carlos José Guimarães Cova – Brasil Econômico

Esse benefício pode ser denominado como sendo uma renda de utilidade governamental. Dessa forma, cada cidadão votaria no partido em que ele acredita que lhe proporcionará maior renda de utilidade do que qualquer outro durante o próximo mandato.

A questão do voto posta nesses termos parece simples, mas não é. Um indivíduo verdadeiramente racional deve saber que nenhum partido será capaz de fazer tudo o que promete, de tal forma que ele não se detém na análise das plataformas e sim passa a estimar o que os partidos realmente fariam se estivessem no poder.

O problema reside no fato de que o eleitor consegue avaliar melhor o desempenho do partido que já está no poder. Qualquer outro partido de oposição já entra nesse jogo em desvantagem objetiva, perante o partido que está no poder.

Não obstante, como já assinalou o Nobel de Economia Kennet Arrow, muitas ambiguidades podem surgir quando estão em disputa mais de duas alternativas possíveis de escolha, ou seja, quando mais de dois partidos políticos estão no jogo. Nesse caso, a escolha final pode não ser ótima no sentido de atender ao interesse da maioria.

É o que se designou por Teorema da Impossibilidade de Arrow. Talvez essa seja uma justificativa para um sistema de eleição em dois turnos, na ausência de maioria absoluta.

Os modelos de coalizão entre partidos, que sinalizem uma relação final polarizada entre dois grandes grupos, faz com que as políticas da coalizão sejam aquelas que a maioria dos eleitores prefere, sem que se leve em conta as estratégias que os partidos estão seguindo.

Há ainda o problema da incerteza no ato de votar, que consiste na falta de conhecimento seguro sobre o curso de acontecimentos passados, presentes, futuros ou mesmo aqueles hipotéticos.

Em geral eliminamos a incerteza por meio da obtenção de informação. O problema reside no fato que uma decisão racional nesse processo de escolha implica capacidade de tomar decisões com base em razão, informações e em conhecimento contextual.

A razão pressupõe a capacidade de processar o pensamento lógico, com base nos princípios de análise de causa e efeito. Por exemplo, as pessoas não se precipitam do alto dos prédios porque avaliam antes as consequências.

Em geral, supomos que quase todas as pessoas possuem a razão. O conhecimento contextual é a percepção das forças básicas que atuam num determinado campo de atividade, ou seja, é a compreensão das relações acerca das variáveis fundamentais em alguma área, tais como a economia, a engenharia ou o direito.

Trata-se de algo mais específico do que a razão, não sendo comum a todos os homens, mas pode ser adquirido em graus variados por meio da educação. Por fim, a informação compreende o conjunto de dados articulados sobre os desenvolvimentos das ações em curso, bem como o status das variáveis que são o objeto do conhecimento contextual.

A falta de conhecimento contextual é ignorância, que se constitui em algo distinto de falta de informação. O homem deixa de ser ignorante, por meio da educação, que tem um custo alto. Mas, dado que o homem já possua conhecimento contextual e não tenha informação, basta que tenha acesso a esta, o que é menos custoso do que a aquisição da educação.

Dessa forma, pode-se inferir que um indivíduo pode ser culto sem ser informado, bem como pode ser informado sem ser culto. Porém, no último caso, ele não consegue interpretar as informações que possui por falta de conhecimento contextual. Aqui reside um ponto fundamental: tanto a educação, quanto a aquisição de informações implicam custos.

Os partidos políticos se veem no clássico dilema que envolve os anunciantes de produtos concorrentes. Cada partido deve diferenciar o seu produto de todos os seus concorrentes ao mesmo tempo em que deve declarar que possui todas as virtudes dos demais.

Como nenhum partido pode ganhar em oposição aos interesses de uma maioria apaixonada (seria a Classe C?), todos os partidos em geral buscam se identificar com os desejos da maioria dos eleitores. Sob a ótica do eleitor, qualquer tentativa de compreender em profundidade os efeitos das políticas e ações pretendidas pelos partidos políticos é muito custosa e gera desconforto.

Por esta razão, os aspectos de marketing e reforços de ícones ideológicos costumam se sobrepor a qualquer lógica de racionalidade num processo eleitoral.

Para o eleitor, o trabalho é simplificado e o custo de escolher se reduz ao máximo, pois não precisa avaliar entre aspectos que envolvam variáveis e questões complexas. O Marketing político reduz seu dilema a uma mera escolha de embalagem (que reveste a ideologia). Como não se faz Marketing sem dinheiro…

Publicado em 13/05/11
Fonte: http://brasileconomico.ig.com.br/noticias/a-logica-economica-do-voto_101080.html